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TEXTO INTRODUTÓRIO - UNIDADE IV

O Covid-19 e os desafios para os povos indígenas no Brasil

 

Dra. Fabiane Vinente dos Santos

Pesquisadora do Instituto Leônidas e Maria Deane – Fiocruz/AM

 

O primeiro caso notificado de Covid-19 entre indígenas no Brasil foi o de uma jovem Kokama de 19 anos, residente em Santo Antônio do Içá, Amazonas, no final de março de 2020. Nos meses seguintes o novo vírus espalhou-se rapidamente em cidades e aldeias, causando medo, preocupação e desolação. Dados da APIB mostram que até março de 2022 foram 162 povos indígenas atingidos pelo Covid-19 em todo o Brasil, com 1.288 óbitos decorrentes da doença. Mesmo os casos chamados de “curados”, em que as pessoas não apresentam mais sintomas nem traços do vírus, são um desafio para o sistema de saúde, pois algumas pessoas ficam com sequelas, algumas leves, como dificuldade de respirar e dor no peito, e outras graves, como problemas de memória, alteração no olfato e paladar, insuficiência respiratória, cardíaca, dentre outras condições.

O enfrentamento do Covid-19 foi um grande desafio para os povos indígenas, pois não havia medicamentos confiáveis para o tratamento, houve muita desinformação por parte das autoridades sanitárias e da mídia (rádio, televisão e internet). Os infectados nem sempre eram contados da forma adequada e depois de ser pressionado pelas organizações indígenas, o governo federal se mobilizou para destinar recursos para o combate do vírus nas aldeias.

Alguns problemas foram mais difíceis de resolver, como foi o caso da ausência de notificações de novos casos de doentes e óbitos entre indígenas que não residem nas terras indígenas. Quem morasse nas cidades, por exemplo, não entrava nas estatísticas sobre o vírus. Mais uma vez as organizações indígenas se mobilizaram para que este número fosse divulgado e para que os indígenas que moram fora das terras indígenas fossem vistos como indígenas.

Nas aldeias e comunidades, nas terras demarcadas ou nas cidades, os indígenas buscaram em suas tradições formas de combater o vírus. Resgataram suas plantas de poder e seus remédios caseiros, que foram utilizadas em forma de chás, unguentos, inalação, dentre outros. Através destes cuidados, principalmente nos momentos mais críticos dos picos pandêmicos, quando hospitais e equipes de saúde ficaram sobrecarregados e novas internações eram mais difíceis, os indígenas recorreram aos seus remédios e benzimentos, tratando do corpo e da alma, de acordo com cada concepção das culturas indígenas.

As mulheres foram muito importantes neste momento, pois elas guardam conhecimentos sobre essas coisas, assim como os especialistas tradicionais como os pajés, que atuaram no fortalecimento da espiritualidade indígena para superar aquele momento.

No início de 2021 uma boa notícia para os povos indígenas e para o mundo foi a produção em massa das primeiras doses de vacina. No Brasil, como grupo prioritário, os indígenas residentes em terras indígenas foram vacinados pelas equipes dos Distritos Sanitários Especiais Indígenas (DSEIs). Posteriormente, nas cidades, algumas prefeituras incluíram os indígenas em seus grupos prioritários enquanto outros foram vacinados com o restante da população.

De lá para cá muitas coisas aconteceram, inclusive novas pesquisas que mostraram a necessidade de duas e três terceiras doses e de, num futuro próximo, as doses serem anuais, uma vez que o vírus da Covid-19 seria mais um dos vários vírus que circulam no mundo a acometem os humanos.

As falsas notícias, chamadas de fake news, também continuaram com força total durante a vacinação. Essas notícias, muitas vezes passadas pelo aplicativo Whatsapp, outras vezes pela boca de autoridades do governo, plantaram a dúvida no coração da população de que as vacinas não seriam seguras, e por isso muitas pessoas evitaram tomar as doses, o que é um erro.

Este curso foi pensado para ajudar aos conselheiros indígenas de saúde a buscar formas de exercer seu papel de controle social em saúde no contexto da pandemia de Covid-19 entre povos indígenas. Mas não apenas os conselheiros! Qualquer pessoa pode fazer esta formação. Quanto mais gente souber dessas informações, melhor! Ganha a pessoa que vai encontrar mais conhecimento e ganha a saúde, porque quanto mais gente discute os problemas e as soluções, mais rápido as questões podem ser superadas.

Sabemos que esta pandemia, ao contrário de outras, trás desafios inesperados, e cabe aos conselheiros e ao povo em geral buscar informações de qualidade para contribuir na busca por dias melhores e pelo bem viver.

 

Nessa última unidade vamos falar sobre as medidas de proteção da COVID-19 e refletir como podemos contribuir para combater a doença em nossa aldeia.

Boa leitura!!!

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